a morte chega aos 72

tenho o sentimento do mundo e duas mãos.
quando se tem tal sentimento é bem complicado. o sentimento do mundo dentro do peito.
o coração não é maior que o mundo. e meu nome podia ser apenas uma rima, mas nem solução é.

fico aflito, não pela falta de coisas boas, mas pelo excesso de desgraças.
desgraças não pessoais no caso. o caos do mundo todo no tempo de vida de um brasileiro comum, com expectativa de vida de 72 anos.

viver é difícil. mas desistir é covardia.
tantos babacas fazendo todo mundo de trouxa... e a sensação de impotência.

e por que impotência?! não seria eu quem deveria fazer algo?
sim... mas nem sei como. sou perdido. me perdi. e agora nem sei voltar pro ponto inicial.
não sei o que escrevo, apenas escrevo.
são apenas palavras. a maioria dos brasileiros nem isso consegue entender.

vivo num país plural, de riquezas e misérias, de trouxas passivos e intolerâncias.

apenas gostaria de tampar 7 buracos da cara e morrer.
quero ter uma religião... algo no que acreditar.
parece que isso facilita a vida. pelo menos a vida "moderna".
mas nem a religião me quer (a idéia, não a instituição).

qual a razão da vida? qual a razão da morte? e de todo o meio?

o coração bate, revoltado. a respiração arfa. as mãos só querem expressar, em vão, o que as palavras não conseguem.

a angústia é a razão da vida, segundo a psicanálise.
quero acabar com o mundo.

quando era novo. não surgiu anjo nenhum, muito menos torto. eu era apenas um adolescente, não era gauche, queria mudar o mundo... queria acabar com o mundo.

abrace-o, destrua-o.
ações sintomáticas construtivas/destrutivas.
esse sintoma ambíguo sou eu.

eu sou o quê? sou essa coisa que existo. agora. essa é a minha realidade.

minha realidade é tão válida quanto de qualquer outra pessoa comum, vegetal, pedra, dinossauro, psicopata, fóssil, político (sociopata), estuprador, palito de fósforo, maníaco, lâmpada de tungstênio ou esquizofrênico.

e se todos estiverem certos de que vivem os fatos que vivem?
cada um apenas desenvolveu filtros diferentes para compreender a realidade, são educações, vivências, genes, massa, altura, cor, cheiro, ambientes diferentes.
as "alucinações" de uma pessoa podem ser reais, mas nossos filtros agem de forma que nós os ignoramos... desta forma quando tomamos conhecimento de algo diferente, novo, ou seja lá o que for, passamos a prestar mais atenção, como uma mancha na porta de madeira, manias, cheiros, gostos, formas, tudo mais... nos tornamos mais sensíveis, perdemos tais "filtros".

seja v. mesmo. isso é ter personalidade, individualidade, ideologias, ideais...
quero destruir a perspectiva subjetiva. e daí? sobrará o nada em mim.
o nada é o objetivo do budismo... é o tal do nirvana... a extinção do ser. sublimar a ponto de inexistir. existência esta, que é a grande ilusão que nos prende ao material.

o espiritismo diz que a vida é uma aprendizagem, mas que do outro lado há ainda muito o que se viver. o islamismo permite o suicídio de forma a praticar o bem e desta forma terá direito a um paraíso com mil virgens a sua disposição. o catolicismo é mais manjado, então nem preciso dizer nada.

poderia, na morte, nos atermos apenas as limitações da vida mundana? então de nada serve a morte. em outras aeons a morte pode morrer.

e a vida persiste e continua... como um sonho infinito de 72 anos de duração.