"depois de amanhã ela ia fazer 3 meses..."como disse o iéti numa voz reticente.
lola come compulsivamente, como aquelas mulheres que comem pra tentar injetar alguma porção de alegria por vias estomacais, intercalado com cutucadas do focinho em mim, como que tentasse acalmar o meu inconsolável choro silencioso.
eu estou na porta da sala, sentado, ao lado do corpo do cão. lágrimas rolam no meu rosto, porque a morte é inevitável e me lembra da fragilidade da vida.
não era apenas um cão, mas uma moradora e colega de casa, além de discípula de discípula minha.
na noite anterior sua inquietude repentina e o inchaço chamara a atenção.
atenção esta, que fora suprida com uma ida ao único veterinário que encontramos aberto àquela hora, já era escuro, como a morte.
imagino como ela tenha morrido. seu estômago torceu-se sobre ele mesmo, como disse o veterinário após vê-la já morta. então a entrada e a saída do órgão ficaram obstruídas. a fermentação do alimento a fez inchar rapidamente, este inchaço a incomodava muito. o estômago cresce e começa a empurrar tudo quanto é órgão na sua periferia: pulmões e coração principalmente. até que num determinado momento o estômago impede o pulmão de inflar. a partir daí são dois palitos. o animal se desespera por insuficiência respiratória. o bulbo faz o bicho desmaiar e daí é um abraço. insuficiência respiratória além de uma dor estomacal estratosférica. num ser humano a insuficiência cardiorespiratória leva à morte cerebral em 10 minutos. a partir daí se v. conseguir resgatar a pessoa, ela ficará com seqüelas pelo resto da vida. imagine agora um cão de quase 3 meses: seu metabolismo é muito mais rápido, ou seja, é menos tempo para salvar. imaginem que a proporção metabólica seja em nível volumétrico, ou seja, ao cubo.
a morte é sempre uma possibilidade. e às vezes a vida até parece uma brincadeira de mau gosto.
mas ela não tem sentido, e seria muito estranho se tivesse.

Um comentário:
Nao tenho muito o que dizer...so que eu sinto muito por mais esta perda. Mas sei que voce e forte e vai seguir em frente. Para compensar, encha a Lola de carinho enquanto ela esta ai dando focinhadas em voce. Nestes momentos inevitavelmente vem a lembranca dos ultimos momentos do do Alex, do Bobi, e da Minucha. Para voce nao teve o Alex mas teve a Marilyn e a Fau. O importante e que so tenho lembrancas boas dessa cachorrada toda. Lembro que o Alex era um vira-lata bonito e super quieto, que o Bobi era hiperativo quando brincava com a bola e enchia o saco com os seus latidos interminaveis, que a Minucha era extremamente carinhosa e com um senso maternal agucadissimo e que a Marilyn era hiperativa e de pavio curto e muito ciumenta. E que a Lola e essa coisa estrambelhada, inteligente e carinhosa.
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