18.5.07

humano, demasiado humano

"não sei se isso é ignorância,
estupidez...
ou humanidade
"
fred

as vezes tenho a impressão de que quando era mais novo era mais bem informado, meu pais assinavam o jornal e eu lia toda manhã, ao café-da-manhã, vinha uma revista semanal (que particularmente percebo que é bem meia-boca, mas que na época servia como um fonte que reportava algumas coisas mundo afora.), além de comprar várias revistas de cunho cultural, político, econômico, comportamental, não que eu as lesse, mas me sentia mais confortável. enfim, era muito mais um magazine-reader que um leitor de livros
nasci num momento político peculiar da história brasileira, bem no final da ditadura militar (64-85).
os momentos que se sucederam também foram únicos. a liberdade era infinita comparado com a época anterior. a censura foi derrubada, as pessoas saíram as ruas reinvidicar por direitos, uma constituição nova foi implementada. um presidente sofreu impeachment. nos anos seguintes a estabilidade apareceu, até a inflação estabilizou, uma moeda finalmente se firmou. tudo parecia ir bem, mas pouca coisa mudou desde então. a corrupção continuou a mesma. as mesmas pessoas estão no poder, e quando surge uma oposição, ela é pervertida e obrigada a dançar conforme a música.

hoje estou numa das mais importantes universidades públicas do país, e sinto que não sei mais o que acontece com o mundo. talvez eu tenha sido seduzido e cegado pelo conhecimento e me tornado um ignorante.
aqui, como nas outras universidade públicas paulistas têm-se autonomia na pesquisa, faz-se pesquisa de base, como nos países europeus e afins, apesar da ausência ou grande falta de equipamentos, financiamentos, corpo docente, equipe técnica, ainda assim conseguimos um lugar ao sol na disputa tecnocrata. a pesquisa de base é fundamental para um país se mostrar-se frente ao mundo, é uma questão de status. o projeto genoma é a prova cabal disto. provamos ao mundo que estamos dominando técnicas de ponta, mas que nada solucionam os problemas de base do país - não que este seja o objetivo das pesquisas.

a educação é importante e muitos acham que é fator primordial ao desenvolvimento de qualquer instituição, empresa ou mesmo um país. disso não há dúvidas. mas isto é uma idéia desenvolvida na europa, e como um país com pensamento eurocêntrico acatamos tais decisões. é importante frisar que lá não se tem problemas sociais como o nosso... até alguns anos atrás estávamos em terceiro lugar no ranking que media a desigualdade entre classes sociais, sendo superado por apenas dois países africanos. o abismo social que apresentamos impossibilita colocarmos a educação como a prioridade mais importante. fica difícil pensarmos num modelo educacional em que maximize o aprendizado por parte dos alunos, uma vez que parte deles nem sabem se vão ter alguma refeição decente no decorrer do dia, ou se vão conseguir chegar em casa. é impossível colocarmos a sobrevivência como segundo plano, e não é apenas o ponto de vista biológico, mas uma mera questão lógica.

das classes mais baixas, estão eternamente (no sistema capitalista) os proletários, que se uniram de todo o mundo, e falharam terrivelmente. mas ainda existem, e persistem. deles surge o nosso atual presidente (da esquerda na foto - ou 'de' esquerda). com sua escolaridade incompleta, acha que a educação é o pote de ouro no final do arco-íris, pois não conhece a fundo suas limitações nem defeitos. por sua formação ele é muito criticado (mas isto não me incomoda, pois a incompetência não escolhe nível de instrução, atingindo a todos inescrupulosamente). um grande problema de seu governo é o caráter assistencialista - aliás não só do atual, mas de todos os governos -, que acaba por sustentar, mesmo que inocentemente, a situação deplorável em que se encontra todo sistema educacional e social do país - vide bolsas família e programas afins. o caráter assistencialista sempre apresenta resultados a curto prazo. criando a ilusão de que o problema está resolvido, mas poucas vezes é feito com o assistencialismo alguma mudança política que resulte na real solução do problema, o que seria a longo e longuíssimo prazos, o que particularmente não interessa a nenhum governo, pois não adiantam pra fazer "média" com o povo.

no governo estadual temos o ilustríssimo idiota (o feio da direita na foto). idiota este que é diplomado, provando mais uma vez que o sistema educacional brasileiro é falho. ele teve uma idéia hedionda de tirar a pouca autonomia que as universidades estaduais têm, deixando a pesquisa desenvolvida nelas à mercê dos gostos comerciais. dinheiro é sempre bom, mas quando se mexe com o povo é bom ter muita cautela, principalmente com os mais instruídos. afinal, como já dizia um professor de história: o povo é um vulcão prestes a entrar em erupção. a própria reitoria, que é escolhida pelo governo, é contra as decisões do careca.

conhecimento é poder. e as grandes corporações sabem disso. o governador, como o resto de seu partido, são crias fiéis dessas instituições, o que explica várias atos como a privatizações passadas, e a atual pretensão de acabar com a autonomia nas pesquisas acadêmicas.

nesse contexto surge a revolta estudantil que resultou na ocupação da reitoria da usp, em oposição as atitudes do governador. estudantes invandiram o prédio e expulsaram os funcionário, que logo aderiram a uma greve. greve que é totalmente oportunista. talvez a greve já tenha sido usada demasiadamente, e por conseguinte desgastada. foram as poucas vezes em que greves estudantis tenham resultado em algo produtivo. devem haver formas mais efetivas de protesto (a própria invasão é prova disto).

na unesp de rio claro um movimento "bicho-grilo" way of life tem como objetivo revolucionar o mundo, instaurando desde cacuriás e fortalecimento de um movimento estudantil que se mostra muitas vezes acerebrado. greve é sempre opção, maconha não é droga e assembléia é meramente burocrática. é a estupidez com certificado de garantia. estagnados na ditadura militar, essas pessoas não conseguiram se adaptar as novas formas de ambiente que existem atualmente. é claro que como biólogo entendo que por ter sido um nicho muito significativo, sempre haverá pessoas a ocupá-lo.

isto é uma luta por causas reais ou é mera conveniência? não sei nem mais o que é o certo pra mim, muito menos pra um grupo de pessoas.

a ocupação tem causa nobre, mas da nobreza sempre surgem podres. não que toda podridão seja maléfica. acredito que tudo que é bom pode ser pervertida assim como todo mal pode ser bem usado.
a moda da camiseta da ocupação. é até graficamente bem bolada. mas é nitidamente o reflexo do sistema de consumo de bens, mesmo que por mero souvenir da ocupação.
nesse sistema sempre haverá pessoas que venderiam a própria mãe - e provavelmente fariam alguma propaganda convincente.

uma das possíveis soluções que são cogitadas para o fim da ocupação é uma operação da pm - ao estilo das desocupações de sem-tetos -, nada como um revival da época dos milicos.

no final das contas me tornei um órfão político. a direita não sei mais o que é, mas a esquerda deixou de ser esquerda ao final da guerra fria. as grandes corporações tomaram o lugar das grandes potências. há uns 6 anos atrás das 100 maiores economias do mundo, 51 eram corporações, que tinham lucros líquidos maiores que o pib de muitos países mundo afora.
os ricos estão no poder, independentemente de posição política. os pobres, coitados, foram jogados no lixo.
não sou pobre nem rico. me encontro, como muitos, no meio do abismo sócio-eonômico que há no brasil e particularmente é uma posição muito incômoda. a insensibilidade dos ricos e a desgraça dos pobres me assola terrivelmente.

enquanto isso os estúpidos sempre terão(ou teremos) um lugar ao sol.
não desistir da luta... mas... quê luta? posso fazer parte?
obrigado.


recomendação internéticas: blógue da ocupação
recomendação bibliográfica: sem logo, da naomi klein

Um comentário:

ligia disse...

mta coisa boa, mta coisa que eu queria discutir com vc...
novidades da ocução... o careca safado tá ameaçando entrar com o choque na reitoria... ô maravilha! vai ser borrachada pra todo lado! o bom disso tudo é que com tanto bandido por aí, nas ruas, assembleias e congressos, aquele que já foi líder estudantil, dessa vez do outro lado, se esquece o que é ter ideal, e põe polícia pra bater em estudante... são perigosos! que vergonha que eu sinto, por ele, e por mim mesma...
a reitoria (acho que é a reitoria) da unicamp foi ocupada há quase 1 mês; parte dos pedidos foram atendidos e eles desocuparam, mas o alvoroço tá recomeçando...
a diretoria da unesp marília tb está ocupada - graças a deus - alguem pra tentar diminuir a nossa (unesp rio claro) vergonha... por não se mobilizar em situações como essas, se é que isso é possível...
bom, de qualquer maneira, é ótimo ver vc se revoltar de vez em quando... claro, desde que não envolva catchup.